Não há arribas seguras mesmo se "fiscalizadas"
Só zonas balneares estão ao abrigo de imprevisíveis derrocadas na praia
2010-05-27
EDUARDA FERREIRA
As falésias algarvias andaram, nos últimos meses, sob exame de geólogos e outros especialistas. Muitas foram "esculpidas" para maior estabilidade ou deitadas abaixo em parte ou no todo. Tudo em nome da segurança do banhista, que deverá seguir os avisos.
Nem toda a praia é zona balnear. Esta é definida por critérios diversos, alguns de segurança. Uma zona balnear, a que acolhe toldos e chapéus de sol, está a distância suficiente de rochas para garantir que uma qualquer derrocada não atinja os veraneantes. E isso está assim definido nos Planos de Ordenamento da Orla Costeira porque ninguém, técnicos especialistas ou autoridades, pode garantir que uma falésia não se desprenda sobre o areal e, pior, sobre banhistas. A margem de incerteza quanto à segurança de uma arriba foi assim descrita ao JN pelo vice-presidente da Administração Regional Hidrográfica (ARH) do Algarve: "Tanto pode cair dentro de um segundo ou dentro de dez anos". Paulo Cruz acrescenta que as derrocadas "são fenómenos com muito baixa probabilidade de ocorrerem, mas o seu risco não pode ser totalmente eliminado". Para uma tal garantia, "só fechando as praias".
A derrocada de ontem na praia do Vau (ver reportagem na página seguinte) ocorreu numa zona não definida como balnear. Ainda assim, a falésia havia tido afixadas placas avisando do risco; contudo, o Inverno tinha-as destruído.
"Afaste-se das arribas mesmo que tenham sido monitorizadas", é o conselho adiantado pelo mesmo responsável, Paulo Cruz, aos veraneantes que demandem o Algarve, zona em que foi encerrada agora uma fase de monitorização e derrocadas controladas em 200 falésias situadas em 20 praias, uma tarefa que foi concluída há escassos dias. Em muitos dos casos o trabalho envolveu o desmonte de arribas para as tornar mais estáveis no seu formato. A acção das marés na base destas formações geológicas constitui uma das formas da sua fragilização.
Esta é uma tarefa que tem de ser permanente, porque os processos de erosão costeira não páram. Um Inverno e marés mais rigorosas, bem como a maior fragilidade de alguns tipos de rocha (como a calcária que predomina na costa algarvia) criam mais situações de derrocada iminente.
As intervenções feitas até agora no Algarve abrangeram 200 arribas em cerca de duas dezenas de praias. Os técnicos identificaram os pontos sensíveis, mas, afirma o vice-presidente da ARH do Algarve, não há meios de diagnóstico infalíveis. É que também "não há um aparelho que se use e que revele que uma falésia vai cair". Pode ver-se se houve desagregação recente, se a rocha está com fendas ou evidencia maior porosidade. Pouco mais. O resto é intervir por precaução, atitude que Paulo Cruz aconselha aos banhistas: "Afaste-se das arribas mesmo que estas tenham sido monitorizadas". Afinal, a mesma atitude que é pedida aos cidadãos em matéria de prevenção rodoviária ou saúde pública. "Ninguém pode garantir segurança absoluta. Ir para a sombra da arriba implica que se tenha a consciência de que tudo pode correr mal", sublinha o mesmo responsável.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1579183
sexta-feira, 4 de junho de 2010
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